domingo, 15 de maio de 2011

Habenarias Silvestres


As Orquidáceas do gênero Habenaria são de distribuição pando tropical e os principais centros de diversidade estão no Brasil, África central e sul e leste da Ásia. Atualmente se estima a existência de seiscentas espécies, sendo um dos mais expressivos gêneros da família das Orchidaeceas e possivelmente seu maior numero de espécies terrestres. No Brasil estão registrados cento e cinqüenta e três espécies, sendo o principal centro de diversidade o bioma do Cerrado, incluindo-se os campos rupestres do centro oeste e da região sudeste. Nos inventários florísticos das áreas de Cerrado e campos rupestres, a Habenaria aparece como o gênero das Orchidaceas com maior número de espécies, enquanto as Orchidaceas se qualificam entre as seis famílias botânicas com maior número de espécies. Morfologia – O gênero Habenaria pertence à subfamília Orchidoideae e ao subgrupo Habenariinae. É o maior e o único grupo no continente Americano, que é expressivamente bem representado na África e na Ásia. Uma característica distinta do grupo são os exemplares terrestres, com um tubérculo basal, a antera ereta, fusionada a coluna e as políneas sécteis.  Principais Caracteres Distintivos das Habenaria:  A – Plantas terrestres com um tubérculo subterrâneo. B – Caule único, sem ramificações. C – Folhas distribuídas em espiral em torno do caule, muitas vezes adpressas ao caule, nesse caso os exemplares parecem afilas. D – Inflorescência no ápice da planta, simples, sem ramificações, geralmente multiflora. E – Flores de tamanho variado podendo ser pequenas ou grandes, de degradação variando entre verdes, brancas ou amarelas. F – Pétalas e labelo geralmente partidos, com os segmentos filiformes e labelo com nectário basal – calcar ou esporão. G – Coluna curta. H – Antena fusionada a coluna, persistente, dividida em dois lóculos. I – Duas políneas, subdivididas em pequenos invólucros, ligados por materiais elásticos sécteis, com caudículo e viscidez basal. J – Dois estigmas projetados, circundando a abertura do calcar, com lobos inteiros e livres, sem ligação às pétalas ou labelo. Ambientalismo – Os exemplares de Habenaria são essencialmente terrestres, mas algumas podem ocasionalmente ser encontradas longe do solo, crescendo sobre detritos vegetais acumulados nas bainhas de palmeiras. Habitats – O gênero é encontrado principalmente em regiões de clima sazonal, com uma estação chuvosa bem definida e uma estação seca mais ou menos extensa. As plantas são perenes, mas os caules e folhas são anuais. Cada ciclo de crescimento anual normalmente inicia-se com a chegada das chuvas. Com a disponibilidade de água, brota um novo caule a partir da reserva de nutrientes acumulados na túbera subterrânea. O novo caule pode produzir ou não uma inflorescência e flores. Com os recursos produzidos pela nova brotação é formada uma nova túbera. A túbera anterior subsiste por algum tempo ao lado da nova, mas depois degenera. Com a chegada da seca a parte aérea seca gradualmente e morre, e a planta subsiste apenas pela túbera enterrada no solo até a estação chuvosa seguinte. Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste o crescimento e floração da grande maioria das espécies ocorre entre novembro e abril. Algumas poucas espécies crescem e florescem durante a estação seca, entre maio e outubro, mas nesse caso, as plantas são sempre de ambientes muito úmidos, onde há disponibilidade durante todo o ano.

 Cerrado – O Cerrado é o Bioma que apresenta o maior número de espécies de Habenaria no país. O Cerrado é formado por um mosaico de vegetações que variam desde o cerradão até o campo limpo. Os ambientes mais abertos, como os campos sujos e os campos limpos são os que concentram o maior número de espécies.

Veredas e Campos Úmidos – Dentre os vários tipos de vegetação associados ao Bioma Cerrado os campos úmidos são o que concentram o maior número de espécies de Habenaria. Esses campos podem ser estacional ou permanentemente úmidos. Freqüentemente ocorrem associados a pequenas elevação regulares conhecidas como murundus.

Campos Rupestres – Ocorrem principalmente em Minas Gerais na Cadeia do Espinhaço e em Goiás. A vegetação é semelhante a um campo sujo, mas ocorre em meio a afloramentos rochosos. O número de espécies de Habenaria que ocorre nesse tipo de vegetação é grande, destacando-se a Habenaria Guillemin com um calcar de um a três milímetros e a Habenaria Caldensis.

Mata Atlântica – São poucas as espécies de Habenaria que ocorrem em matas e na Mata Atlântica. A maioria das espécies tem as folhas bem desenvolvidas. Uma espécie típica e comum desse ambiente é a Habenaria Josephensis.

Matas Nebulares – são matas que ocorrem em altitudes mais elevadas nas montanhas e que embora não estejam associadas a um curso de água se mantém úmidas devido a quantidade de neblina. São poucas as espécies de Habenaria desse tipo de vegetação, destacando-se a Habenaria Josephensis.

Campos de Altitude – São campos limpos ou sujos que ocorrem em áreas acima de mil e quinhentos metros em áreas de Mata Atlântica. Uma espécie típica desse ambiente é a Habenaria Paranaensis, comum na região do Itatiaia a na Serra dos Órgãos no estado do Rio de Janeiro. Além dos habitats anteriores algumas espécies também ocorrem em matas secas como a Habenaria Cryptophila, enquanto outras são aquáticas sendo encontradas na beira de lagoas ou rios, como a Habenaria Repens. Algumas poucas espécies são beneficiadas pela ação humana, ocorrendo em áreas antropizadas como pastagens e beira de estradas, destacando-se nesse caso a Habenaria Petalodes.

Inflorescência – As flores geralmente são pequenas e pouco vistosas, mas produzem néctar e exalam um perfume noturno. A polinização é feita durante a noite por mariposas ou mosquitos (pernilongos). Os insetos são atraídos pela fragrância e pela oferta de néctar. A taxa de polinização é alta e o número de frutos formados normalmente é grande. A maturação dos frutos é rápida e em alguns casos uma mesma inflorescência pode ter frutos abertos na base e flores novas no ápice. Após a maturação dos frutos a parte aérea (caule e folhas) geralmente seca e morre. Endemismo – A grande maioria das espécies é de distribuição ampla, e parece haver apenas um caso de endemismo restrito, a Habenaria Itacolumia, conhecida apenas do Pico do Itacolomi. Todavia, a maior parte das espécies é rara ou ocasional. Algumas poucas espécies podem ocupar áreas antropizadas, como pastos e beiras de estradas, tornando-se comuns, como a Habenaria Petalodes. Cultivo –  Algumas poucas espécies do gênero, com a asiática Habenaria Rodocheila, de flores vermelhas a alaranjadas, são cultivadas e comercializadas. A comercialização é feita através das túberas. Em algumas regiões da África e Ásia as túberas são usadas como alimento. Já foi isolado de uma espécie um composto químico, denominado habenariol, que funciona como um inibidor digestivo para insetos, impedindo que a planta seja comida.

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